Era uma vez um urso chamado Pepi que vivia no Pólo Norte. Esta é uma região muito fria, onde a neve e o gelo estão quase sempre presentes. Até o próprio Pepi fazia lembrar a neve, pois era muito branco e tinha muito pêlo para o proteger do frio.
Ali, vivia com os seus pais e alguns amigos, como a foca e o pinguim. Ambos gostavam muito de conversar e o Pepi adorava falar sobre um dos seus grandes sonhos: conhecer o resto do mundo. Por mais que gostasse da sua região, tinha curiosidade em descobrir o que se passava nas outras regiões, que animais e plantas lá existiam.
Um dia, disse para o seu amigo pinguim:
- Sabes, estive a pensar e acho que vou a dar a volta ao mundo.
- Outra vez com essa conversa Pepi? – disse o pinguim – O teu lugar é aqui e é onde deves ficar.
- Eu sei amigo. Eu também me sinto muito bem aqui, mas não descanso enquanto não descobrir o que existe no resto do mundo.
- Se os teus pais souberem não vão gostar nada dessa história. Todos gostamos muito de ti e não te queremos perder. – avisou o pinguim.
- Ah! Eu não me perco. Já sou crescido e sei cuidar de mim muito bem. Não preciso de mais ninguém.
O pinguim pensou que tudo ficaria por ali e não ligou. Mas enganou-se.
Passados alguns dias Pepi tinha desaparecido. Todos na região se reuniram, muito preocupados.
- Mas para onde é que ele terá ido? O que é que lhe terá acontecido? – perguntava a foca, com preocupação.
Ao ver todos preocupados, o pinguim acabou por falar:
- Eu até tenho medo de dizer, mas acho que ele foi mesmo realizar o seu sonho: conhecer outras regiões do mundo.
- Será?? – questionou a foca – Bem, ele sempre falou tanto nisso… Mas então o Pepi corre perigo. Ele não está preparado para sair daqui. O que é que ele vai comer?
- Quando perceber isso, talvez seja tarde demais. – afirmou o pinguim, com tristeza.
Enquanto os seus amigos e a sua família tentavam encontrar uma solução, Pepi caminhou durante alguns dias pelo mundo fora. Já se tinha afastado muito da sua região e começou a sentir-se cansado e com algum medo. Tinha deixado de ver neve e, em vez disso, avistou uma grande quantidade de areia, que parecia não ter fim. Nunca tinha visto aquilo na sua vida e estava muito espantado.
No entanto, começou a sentir imenso calor e estava cheio de sede. Já não aguentava mais. Naquela altura, já se tinha arrependido de não ter ouvido os conselhos dos seus amigos. Teve de parar e por ali ficou.
Entretanto, surgiu um camelo perto dele e disse:
- Quem és tu? O que fazes aqui?
- Eu… eu… eu sou o Pepi, um urso polar.
- E o que é que um urso polar faz no meio do deserto? – perguntou o camelo, intrigado.
- Deserto?? Eu estou no deserto?
- Claro. É só olhares à tua volta. – disse o camelo.
- Mas não há aqui nada. – afirmou o Pepi, cada vez mais admirado.
- Pois não. – disse o camelo – além desta areia imensa, não há praticamente mais nada.
- Água, eu preciso de água, por favor. – pediu o Pepi.
- Aqui a água e as plantas são muito raras por causa do nosso clima.
Pepi estava cada vez mais espantado:
- Credo, como é que consegues viver aqui?
- Ora, eu nasci aqui e já estou preparado para viver neste lugar. É a minha casa e não quero sair daqui.
- Não podes estar a falar a sério. Isto não tem nada.
- O que para ti não é nada, para mim é tudo. É o meu mundo. Agora, deixa-te de conversas e segue-me que eu vou ver o que se pode arranjar para te matar a sede.
Depois de mais uma caminhada, durante a qual Pepi contou a sua história ao camelo, finalmente encontraram um pouco de água, o que deixou Pepi muito feliz e agradecido.
- Obrigado camelo. Se não fosses tu tinha morrido.
- Não tens de quê. Mas agora vai, volta para casa que é onde deves estar.
- Sim, eu vou voltar.
- E sabes o caminho? – perguntou o camelo.
- Sim, sei. Acho que é para aquele lado. Adeus amigo, gostei muito de te conhecer… ai, ui, piquei-me. Mas o que é isto?
- Calma, tens de olhar por onde andas. Isso é um cacto, uma planta da nossa região.
- Planta? Meu Deus, parece mais uma armadilha. Definitivamente eu não queria viver aqui. Adeus amigo.
- Adeus Pepi. E boa sorte. – acenou o camelo a sorrir.
Pepi continuou a sua viagem, e desta vez já queria voltar para casa. Tinha percebido que afinal a sua região tinha tudo o que o fazia feliz.
No entanto, não conseguia encontrar o caminho de volta e, depois de andar durante muito tempo, estava triste e com vontade de chorar. Pensou para si mesmo que, se encontrasse o caminho, nunca mais voltaria a sair da sua região.
Entretanto, começou a ver muitas árvores, muita vegetação e resolveu aproximar-se. Apesar do medo que sentia pensou que ali poderia encontrar ajuda.
De repente, sentiu um ruído atrás de si que o fez saltar de susto.
- O que é isto??? – perguntou, assustado.
- Quem és tu? Pareces um urso, mas aqui só há ursos pretos, nunca tinha visto um urso branco. – perguntou uma girafa.
- Ah?? Uma árvore que fala?? – questionava Pepi, admirado.
- Árvore?? Eu?? Eu sou uma girafa.
- Girafa… és tão alta… - disse o Pepi, enquanto inclinava a cabeça para cima.
- Pois é, e por isso é que me alimento das folhas das árvores. Mas afinal quem és tu e o que fazes aqui na selva?
- Selva?? Eu estou na selva? A minha mãe já me contou histórias sobre a selva… - recordou Pepi pensativo.
- De onde vens? – perguntou-lhe a girafa.
- Do Pólo Norte.
Pepi contou toda a sua história à girafa. Esta resolveu convocar alguns animais da selva para uma reunião. Apareceu o macaco, a zebra, o elefante e o hipopótamo.
Pepi contou-lhes a sua aventura e pediu ajuda para voltar para casa.
- Que giro, pareces neve…eh,eh – brincou o macaco.
- Nem me fales em neve… tenho tantas saudades. Já não suporto este calor e além disso estou cheio de fome.
- Se quiseres uma banana… - ofereceu o macaco.
- Eu posso arranjar-te algumas folhas… - disponibilizou-se a girafa.
- Não sei se gosto disso, mas deixem-me experimentar.
Trincou uma banana e um pedaço de folha, mas logo as cuspiu:
- Bahhh… mas o que é isto? Até o peixe podre é melhor do que isto.
- Então vais mesmo passar fome. – alertou a zebra.
- Ai a minha casinha… que saudades. – lamentava-se Pepi – E agora? Eu quero a minha mãe…
O hipopótamo tentou confortá-lo:
- Calma rapaz, nós vamos ajudar-te.
- Acho que estou a ficar doente – queixava-se Pepi ao mesmo tempo que se encostava a uma árvore.
- Vem, descansa aqui – disse o hipopótamo – Nós vamos falar com o nosso rei e ver o que podemos fazer.
- Vocês têm um rei? – perguntou Pepi, curioso.
- Sim, é o leão, o rei da selva. – respondeu a zebra.
Passado algum tempo, já estavam todos reunidos e logo depois chegou o rei, o leão que começou por dizer:
- Deixem-me vê-lo.
Assim que olhou para o urso Pepi, exclamou:
- Ah! Coitado! Está tão pálido. Têm a certeza de que ainda está vivo? Está tão branquinho…
O macaco logo esclareceu:
- Ele é mesmo assim, veio da neve, do Pólo Norte.
- Ah, então temos de o ajudar. – afirmou decidido o leão – E para isso precisamos de alguém que descubra o caminho para o Pólo Norte.
- Já sei – gritou a girafa – o papagaio pode ajudar-nos.
Assim, foram falar com o papagaio que aceitou logo ajudar, embora também corresse alguns riscos. Isto porque ele não estava habituado a um clima tão frio.
Mesmo assim, voou durante muito tempo… até que avistou neve e gelo. Percebeu que tinha encontrado o que procurava.
Com o frio quase já não conseguia voar, mas arranjou forças e foi ter com o pinguim e a foca. Contou-lhes o que tinha acontecido e prometeu que Pepi iria voltar. A alegria instalou-se no Pólo Norte.
Foi então que, depois de regressar à selva o papagaio deu ao Pepi um peixe que o pinguim lhe tinha mandado e assim ele ficou com mais força.
- Obrigado por tudo – agradeceu Pepi ao despedir-se – Vocês são grandes amigos e nunca vos vou esquecer.
- Vai Pepi – disse o leão, aproximando-se – E espero que tenhas aprendido a lição.
Pepi seguiu o papagaio e depois de uma longa caminhada viu muita neve e começou a correr. Só parou para se despedir:
- Adeus papagaio. Obrigado. Vem visitar-me quando puderes. Estarei sempre aqui – e continuou a correr alegremente.
- Adeus Pepi… ui, que gelo – disse o papagaio.
Pepi abraçou os seus amigos com muita emoção ao mesmo tempo que dizia:
- Prometo que nunca mais saio daqui. Ah! Isto sim é o meu mundo.
- Mas pelos vistos arranjaste muitos amigos – observou a foca.
- Sim, é verdade, mas cada um no seu lugar. Percebi que só aqui serei feliz. Aprendi uma grande lição: todos nós, e até as plantas, estamos adaptados ao clima e à maneira de viver de cada região. Só nelas é que conseguiremos ser felizes… Eu sou muito feliz aqui…
Todos se abraçaram e caminharam juntos.
Fim
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