segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A almofada que não deixava sonhar

Era uma vez uma menina chamada Mariana que vivia numa pequena vila. A Mariana tinha uma família feliz, morava com os seus pais e adorava brincar ao ar livre. O seu pai tinha uma pequena horta e, sempre que podia, ela ia ajudá-lo. Os seus dias eram passados entre a escola, a sua casa e as brincadeiras na rua. Ela tinha tudo para ser feliz, mas havia uma coisa que a aborrecia porque não conseguia fazer… a Mariana não conseguia sonhar…
Na escola a professora tinha pedido para cada aluno escrever sobre um sonho que tivesse tido, para depois o ilustrar e o melhor trabalho iria receber um prémio: um candeeiro luminoso, daqueles que projectam estrelas e luas florescentes no tecto. Mariana gostava tanto de ter um…
Todos os colegas na escola já tinham começado a escrever os sonhos que tinham tido e Mariana não conseguia participar, pois não sabia o que era sonhar. Por vezes, quando a professora via que ela ficava triste dizia:
- Olha Mariana, se calhar tu até sonhas… só que depois não te lembras. Mas ainda tens tempo e eu tenho a certeza de que, um dia, tu ainda vais ter um sonho muito bonito para nos contares. Mas se isso não acontecer antes deste concurso não faz mal, imaginas um sonho e escreves sobre isso.
            Todas as noites, antes de adormecer, ela pedia muito para conseguir sonhar. Às vezes imaginava sonhos que poderia ter, mas isso não era sonhar, era pensar e assim não tinha graça. Toda a gente dizia que sonhar era algo mágico e misterioso, o que ainda a deixava mais curiosa.
Certo dia, andava ela a brincar na horta com o seu pai quando ele diz:
- Sabes filha, hoje sonhei que a nossa horta se tinha transformado num grande campo agrícola e como eu já não conseguia cuidar dele sozinho, tive de contratar trabalhadores para me ajudarem, imagina.
Mariana olhou para o pai e disse:
- Toda a gente sonha…menos eu! Porquê?
- Oh filha, outra vez essa conversa. Ainda és muito nova, ainda vais sonhar muitas vezes.
- Só se sonhar acordada…
Nessa noite, Mariana foi para o seu quarto e deitou-se na cama. Estava quase a adormecer quando sentiu a sua cabeça ser empurrada. Pensou em gritar mas, de repente, ouviu uma voz baixinha:
- Psst… levanta-te só um bocadinho, ainda não tenho sono.
Mariana quase saltou da cama assustada, acendeu a luz e balbuciou:
- Mas… mas quem é que está aí?
- Sou eu! Ei, aqui… estou aqui…
Mariana olhou à sua volta mas não via ninguém. As suas pernas tremiam cada vez mais e estava prestes a fugir dali quando reparou que a sua almofada se estava a mexer.
Não era possível! Uma almofada que falava! Mariana já tinha lido muitos livros de fantasia, daqueles em que tudo pode acontecer, mas uma almofada falar de verdade? Não conseguia entender, mas ficou muito curiosa. Aproximou-se da cama e perguntou:
- És tu que estás a falar comigo?
- Sim, claro que sou eu… a tua almofada. Estamos juntas há tanto tempo e ainda não me reconheces?
Mariana estava cada vez mais espantada e ao mesmo tempo fascinada pelo que lhe estava a acontecer. Então disse:
- Nós nunca falámos antes, por isso é que estou tão admirada. Aliás, eu não sabia que era possível uma almofada falar.
- Claro que é possível – disse a almofada – eu sempre falei, tu é que nunca me conseguiste ouvir. Vinhas para o quarto já cansada e adormecias logo. Aliás, deixa que te diga, que sono pesado que tu tens. Como deves calcular eu falava-te mesmo ao ouvido, mas tu nada, não me ligavas.
- Então ainda bem que hoje demorei mais um pouco a adormecer. É muito giro saber que falas. Deves ter tantas coisas para me contar…
- Sim, tenho. E ultimamente tenho tentado falar contigo porque sei que andas um bocadinho triste.
- Sabes??
- Claro que sim! Eu sou uma almofada onde tu encostas a tua cabeça todas as noites. Eu não ouço só a tua voz mas também os teus pensamentos.
- A sério? Tu consegues saber aquilo que penso? – perguntou a Mariana cada vez mais entusiasmada.
- Anda cá, senta-te aqui ao pé de mim.
Mariana esqueceu o medo e sentou-se na cama. Muito devagarinho colocou a mão em cima da almofada e ouviu um suspiro.
- Obrigada Mariana. Obrigada por seres minha amiga e me tratares tão bem.
- Tu és a minha almofada, estás sempre comigo e ainda por cima falas… claro que sou tua amiga e gosto muito de ti.
- É por isso mesmo que eu tenho de te ajudar. Não consigo mais ficar calada e sentir a tua tristeza.
- Não estou a perceber! – disse Mariana, intrigada.
- Eu sei que andas cada vez mais triste por não conseguires sonhar, não é verdade?
- Sim, é verdade. Toda a gente sonha, mas eu nunca sonhei. Ainda por cima a minha professora inventou lá na sala o concurso dos sonhos e eu não vou poder participar.
- Eu sei, eu sei isso tudo. Tu não tens pensado em outra coisa ultimamente. Por isso é que tenho de te contar uma coisa.
- O que é? – perguntou Mariana, curiosa.
- Eu sei a razão por que tu não consegues sonhar.
- Sabes?? Como?? Por favor, diz-me.
- Eu sou a culpada… é por minha causa que tu não consegues sonhar.
- Não estou a perceber! Explica-me melhor. – pediu Mariana.
- Antes de eu ser a tua almofada, ou seja, até a tua mãe me comprar naquela loja, eu já fui almofada de outros meninos. Mas nunca consegui ficar muito tempo com nenhum deles…
- Porquê? – perguntou Mariana.
- Porque todos esses meninos tinham pesadelos sempre que dormiam comigo. Não foi só um ou dois, mas vários… acordavam a meio da noite a chorar muito assustados, alguns agarravam-se a mim, apertavam-me com força, outros chegaram mesmo a bater-me e diziam que a culpa era minha. Os pais deles vinham ao quarto acalmá-los e acabavam, mais dia menos dia, por me trocar por outra para tentarem resolver o problema.
Houve uma menina que, quando eu estava a ser levada embora, me abanou toda e disse “sai daqui almofada dos pesadelos”.
Fiquei muito triste, senti-me muito sozinha, porque isto se repetia sempre que eu ia para uma nova casa.
- E como é que vieste aqui parar? – perguntou Mariana, cada vez mais interessada naquilo que ouvia.
- Bom, eu estava muito cansada daquela vida. Eu adorava ser almofada para dormir, mas aquilo não podia continuar. Foi então que tomei uma decisão: desisti de ser almofada de dormir e tornei-me numa almofada para decoração, para estar num sofá ou em qualquer sítio que não perturbasse ninguém.
Até que a tua mãe foi à loja de decoração e me comprou para pôr no sofá.
Mariana interrompeu:
- Sim, disso eu lembro-me muito bem. Eu mal te vi achei-te logo tão fofinha.
- Eu nunca me esquecerei do abraço que me deste e de como insististe com a tua mãe para eu ir para o teu quarto. Ela no início não queria deixar porque a tua almofada era nova, mas depois acabou por concordar e fez-se a troca.
- Foi isso mesmo. Mas então és tu que não me deixas sonhar?
- Sim, eu perdi toda a magia de uma almofada de dormir quando me dediquei à decoração. Assim sabia que nunca mais ninguém poderia sonhar nem ter pesadelos perto de mim. – explicou a almofada.
- Ah, agora estou a perceber tudo. Por isso é que eu, por mais vontade que tenha, não consigo sonhar.
- Sim. Eu sei que é terrível descobrires isso, foste tão boa para mim…Embora eu tenha perdido a capacidade de fazer sonhar, tu trouxeste-me para o teu quarto, um lugar onde adoro viver… mas eu não podia continuar a esconder-te este segredo e ver-te assim triste.
Mas agora arranjei coragem e tu vais poder ter aquilo que tanto desejas: sonhar.
- E como é que eu posso fazer isso?
- Basta trocares-me pela tua almofada antiga que está no sofá. Não sonhaste com ela porque a tiveste tão poucos dias, mas tenho a certeza que se a trouxeres de volta vais ter muitos sonhos e assim poderás participar no concurso da tua escola.
Mariana olhou muito séria para a sua almofada e perguntou:
- Tu podes voltar a ser uma almofada de dormir de verdade? Podes voltar a fazer sonhar?
- Nem penses nisso Mariana.
- Responde, podes ou não?
- Sim, há uma forma de fazer isso, mas eu não quero. Eu prefiro ser uma boa recordação para ti, não quero que tenhas medo de mim como os outros.
- Eu não tenho medo de ti. Por favor, não desistas de ser quem és. Deixa-me tentar sonhar contigo.
- Mariana, não me peças isso…
- Por favor, estou a pedir-te. – insistiu Mariana – Faz isso por mim. Ajuda-me a ajudar-te.
Depois de alguma insistência a almofada resolver aceitar a proposta da Mariana. Tinha algum receio, mas aquela menina sempre a tinha tratado tão bem, ela tinha de tentar.
- Então diz-me almofada, o que temos de fazer para voltares a ser uma almofada de dormir?
- Bem, eu tenho de passar uma noite inteira junto de uma almofada de dormir já antiga, com muitos anos de experiência, mas voltar ao teu quarto antes de amanhecer.
- Ora, almofadas antigas… cá em casa só no quarto dos meus pais.
- E como é que vais conseguir isso?
- Acabo de ter uma ideia, confia em mim.
Mariana estava determinada a ajudar a sua amiga e foi então que se dirigiu ao quarto dos seus pais:
- Mãe, pai, estão a ouvir? – perguntou baixinho.
- Mariana… o que foi filha? – perguntou a mãe.
- Não consigo dormir. Dói-me um bocadinho a cabeça.
- Queres que te vá fazer um chá?
- Não mãe, não é preciso. Mas será que hoje não posso dormir aqui com vocês? Só hoje, vá lá.
- Está bem, deita-te aqui ao meu lado.
- Vou só buscar a minha almofada, já volto.
A almofada nem queria acreditar. Tinha sido mais fácil do que ela pensava. Mariana pegou nela, confortou-a e disse:
- Força, eu vou gostar sempre de ti, não tenhas medo.
- Mariana, não te esqueças que antes de ser dia temos de voltar para o quarto.
- Não te preocupes, assim será.
No dia seguinte Mariana ouviu ao longe:
- Mariana, acorda. Acorda filha, tens de ir para a escola.
Mariana abriu os olhos e viu a sua mãe.
- Que horas são?
- Já estás um bocadinho atrasada. Hoje não acordaste, tive de te vir chamar. Levanta-te, toma banho e vem tomar o pequeno-almoço.
Mariana deu um pulo da cama e gritou:
- Mãe, espera.
Enquanto dizia isto, olhava para a sua almofada.
- Eu hoje dormi onde? – perguntou à sua mãe.
- Na tua cama, onde querias dormir?
- Eu dormi aqui a noite toda? Eu não fui ter com vocês ao quarto?
- Não, claro que não, eu teria dado conta. Aliás, ontem antes de me deitar vim dar-te um beijinho de boa noite e estavas a dormir profundamente.
- Mas… eu ia jurar que tinha dormido no teu quarto. Lembro-me tão bem, eu estava com dores de cabeça, pedi para ficar lá e tu deixaste.
- Oh filha, isso deve ter sido um sonho.
- Um sonho?? Quer dizer que eu consegui sonhar?
- Sim, não era isso que tanto querias? Conseguiste filha. Vá, mas agora despacha-te. Estou lá em baixo à tua espera.
Mariana estava tão confusa… Aproximou-se da almofada e disse:
- Olá, bom dia… fala comigo, eu sonhei, conseguimos…
Mas não obteve resposta. A almofada permaneceu imóvel e sem o mínimo sinal de querer falar.
Mariana abanou-a devagarinho, falou-lhe mais próxima, tentou de tudo mas nada. Tudo aquilo tinha sido um sonho… tal como as pessoas diziam, parecia tão real. Mas de manhã a vida continuava e os sonhos não passavam de pequenas memórias.
Mariana não sabia se estava contente… tinha sido tão bom falar com a sua almofada. Queria tanto que aquilo tivesse acontecido mesmo. Tinha a certeza que nunca mais olharia para a sua almofada da mesma maneira, considerava-a uma amiga, mas pelos vistos essa amizade só existia em sonhos.
Precisou de algum tempo para se conformar até que percebeu que estava cada vez mais atrasada. Correu para a escola e contou à turma que finalmente tinha sonhado. Os colegas e a professora ficaram contentes e como aquele era o último dia para a entrega dos trabalhos, a professora deixou que os terminassem na aula. No caso da Mariana ela começou e terminou o trabalho naquele dia. Ela escreveu tudo o que sonhou, contou todos os pormenores do diálogo entre si e a almofada. No final fez um bonito desenho onde estava ela deitada sob a almofada. Da sua cabeça saía um balão de pensamento onde estava escrito: “vivi um grande sonho, uma aventura maravilhosa, mas o melhor de tudo é que senti o que é ter uma verdadeira amizade. Mesmo que não passe de um sonho, para mim esse sentimento será sempre real…” E terminou o trabalho.
Naquela noite Mariana foi mais cedo para o seu quarto. Queria experimentar o seu novo candeeiro…Acendeu-o e deitou-se na cama a observar as estrelas e as luas luminosas que pairavam no tecto.
A professora disse que era um candeeiro que a faria sonhar ainda mais. E era realmente muito bonito. Era capaz de passar horas a admirar aquelas imagens.
Acabou por desligar a luz. Foi então que ouviu:
- Parabéns! Melhor do que ter bons sonhos é ter a capacidade de fazer sonhar.
Mariana sorriu e adormeceu.


Fim

A aventura do urso Pepi


 
    Era uma vez um urso chamado Pepi que vivia no Pólo Norte. Esta é uma região muito fria, onde a neve e o gelo estão quase sempre presentes. Até o próprio Pepi fazia lembrar a neve, pois era muito branco e tinha muito pêlo para o proteger do frio.
            Ali, vivia com os seus pais e alguns amigos, como a foca e o pinguim. Ambos gostavam muito de conversar e o Pepi adorava falar sobre um dos seus grandes sonhos: conhecer o resto do mundo. Por mais que gostasse da sua região, tinha curiosidade em descobrir o que se passava nas outras regiões, que animais e plantas lá existiam.
            Um dia, disse para o seu amigo pinguim:
            - Sabes, estive a pensar e acho que vou a dar a volta ao mundo.
            - Outra vez com essa conversa Pepi? – disse o pinguim – O teu lugar é aqui e é onde deves ficar.
            - Eu sei amigo. Eu também me sinto muito bem aqui, mas não descanso enquanto não descobrir o que existe no resto do mundo.
            - Se os teus pais souberem não vão gostar nada dessa história. Todos gostamos muito de ti e não te queremos perder. – avisou o pinguim.
            - Ah! Eu não me perco. Já sou crescido e sei cuidar de mim muito bem. Não preciso de mais ninguém.
            O pinguim pensou que tudo ficaria por ali e não ligou. Mas enganou-se.
            Passados alguns dias Pepi tinha desaparecido. Todos na região se reuniram, muito preocupados.
            - Mas para onde é que ele terá ido? O que é que lhe terá acontecido? – perguntava a foca, com preocupação.
            Ao ver todos preocupados, o pinguim acabou por falar:
            - Eu até tenho medo de dizer, mas acho que ele foi mesmo realizar o seu sonho: conhecer outras regiões do mundo.
            - Será?? – questionou a foca – Bem, ele sempre falou tanto nisso… Mas então o Pepi corre perigo. Ele não está preparado para sair daqui. O que é que ele vai comer?
            - Quando perceber isso, talvez seja tarde demais. – afirmou o pinguim, com tristeza.
            Enquanto os seus amigos e a sua família tentavam encontrar uma solução, Pepi caminhou durante alguns dias pelo mundo fora. Já se tinha afastado muito da sua região e começou a sentir-se cansado e com algum medo. Tinha deixado de ver neve e, em vez disso, avistou uma grande quantidade de areia, que parecia não ter fim. Nunca tinha visto aquilo na sua vida e estava muito espantado.
            No entanto, começou a sentir imenso calor e estava cheio de sede. Já não aguentava mais. Naquela altura, já se tinha arrependido de não ter ouvido os conselhos dos seus amigos. Teve de parar e por ali ficou.
            Entretanto, surgiu um camelo perto dele e disse:
            - Quem és tu? O que fazes aqui?
            - Eu… eu… eu sou o Pepi, um urso polar.
            - E o que é que um urso polar faz no meio do deserto? – perguntou o camelo, intrigado.
            - Deserto?? Eu estou no deserto?
            - Claro. É só olhares à tua volta. – disse o camelo.
            - Mas não há aqui nada. – afirmou o Pepi, cada vez mais admirado.
            - Pois não. – disse o camelo – além desta areia imensa, não há praticamente mais nada.
            - Água, eu preciso de água, por favor. – pediu o Pepi.
            - Aqui a água e as plantas são muito raras por causa do nosso clima.
            Pepi estava cada vez mais espantado:
            - Credo, como é que consegues viver aqui?
            - Ora, eu nasci aqui e já estou preparado para viver neste lugar. É a minha casa e não quero sair daqui.
            - Não podes estar a falar a sério. Isto não tem nada.
            - O que para ti não é nada, para mim é tudo. É o meu mundo. Agora, deixa-te de conversas e segue-me que eu vou ver o que se pode arranjar para te matar a sede.
            Depois de mais uma caminhada, durante a qual Pepi contou a sua história ao camelo, finalmente encontraram um pouco de água, o que deixou Pepi muito feliz e agradecido.
            - Obrigado camelo. Se não fosses tu tinha morrido.
            - Não tens de quê. Mas agora vai, volta para casa que é onde deves estar.
            - Sim, eu vou voltar.
            - E sabes o caminho? – perguntou o camelo.
            - Sim, sei. Acho que é para aquele lado. Adeus amigo, gostei muito de te conhecer… ai, ui, piquei-me. Mas o que é isto?
            - Calma, tens de olhar por onde andas. Isso é um cacto, uma planta da nossa região.
            - Planta? Meu Deus, parece mais uma armadilha. Definitivamente eu não queria viver aqui. Adeus amigo.
            - Adeus Pepi. E boa sorte. – acenou o camelo a sorrir.
            Pepi continuou a sua viagem, e desta vez já queria voltar para casa. Tinha percebido que afinal a sua região tinha tudo o que o fazia feliz.
            No entanto, não conseguia encontrar o caminho de volta e, depois de andar durante muito tempo, estava triste e com vontade de chorar. Pensou para si mesmo que, se encontrasse o caminho, nunca mais voltaria a sair da sua região.
            Entretanto, começou a ver muitas árvores, muita vegetação e resolveu aproximar-se. Apesar do medo que sentia pensou que ali poderia encontrar ajuda.
            De repente, sentiu um ruído atrás de si que o fez saltar de susto.
            - O que é isto??? – perguntou, assustado.
            - Quem és tu? Pareces um urso, mas aqui só há ursos pretos, nunca tinha visto um urso branco. – perguntou uma girafa.
            - Ah?? Uma árvore que fala?? – questionava Pepi, admirado.
            - Árvore?? Eu?? Eu sou uma girafa.
            - Girafa… és tão alta… - disse o Pepi, enquanto inclinava a cabeça para cima.
          - Pois é, e por isso é que me alimento das folhas das árvores. Mas afinal quem és tu e o que fazes aqui na selva?
            - Selva?? Eu estou na selva? A minha mãe já me contou histórias sobre a selva… - recordou Pepi pensativo.
            - De onde vens? – perguntou-lhe a girafa.
            - Do Pólo Norte.
            Pepi contou toda a sua história à girafa. Esta resolveu convocar alguns animais da selva para uma reunião. Apareceu o macaco, a zebra, o elefante e o hipopótamo.
            Pepi contou-lhes a sua aventura e pediu ajuda para voltar para casa.
            - Que giro, pareces neve…eh,eh – brincou o macaco.
            - Nem me fales em neve… tenho tantas saudades. Já não suporto este calor e além disso estou cheio de fome.
            - Se quiseres uma banana… - ofereceu o macaco.
            - Eu posso arranjar-te algumas folhas… - disponibilizou-se a girafa.
            - Não sei se gosto disso, mas deixem-me experimentar.
            Trincou uma banana e um pedaço de folha, mas logo as cuspiu:
            - Bahhh… mas o que é isto? Até o peixe podre é melhor do que isto.
            - Então vais mesmo passar fome. – alertou a zebra.
            - Ai a minha casinha… que saudades. – lamentava-se Pepi – E agora? Eu quero a minha mãe…
            O hipopótamo tentou confortá-lo:
            - Calma rapaz, nós vamos ajudar-te.
            - Acho que estou a ficar doente – queixava-se Pepi ao mesmo tempo que se encostava a uma árvore.
            - Vem, descansa aqui – disse o hipopótamo – Nós vamos falar com o nosso rei e ver o que podemos fazer.
            - Vocês têm um rei? – perguntou Pepi, curioso.
            - Sim, é o leão, o rei da selva. – respondeu a zebra.
            Passado algum tempo, já estavam todos reunidos e logo depois chegou o rei, o leão que começou por dizer:
            - Deixem-me vê-lo.
            Assim que olhou para o urso Pepi, exclamou:
            - Ah! Coitado! Está tão pálido. Têm a certeza de que ainda está vivo? Está tão branquinho…
            O macaco logo esclareceu:
            - Ele é mesmo assim, veio da neve, do Pólo Norte.
            - Ah, então temos de o ajudar. – afirmou decidido o leão – E para isso precisamos de alguém que descubra o caminho para o Pólo Norte.
            - Já sei – gritou a girafa – o papagaio pode ajudar-nos.
            Assim, foram falar com o papagaio que aceitou logo ajudar, embora também corresse alguns riscos. Isto porque ele não estava habituado a um clima tão frio.
            Mesmo assim, voou durante muito tempo… até que avistou neve e gelo. Percebeu que tinha encontrado o que procurava.
            Com o frio quase já não conseguia voar, mas arranjou forças e foi ter com o pinguim e a foca. Contou-lhes o que tinha acontecido e prometeu que Pepi iria voltar. A alegria instalou-se no Pólo Norte.
            Foi então que, depois de regressar à selva o papagaio deu ao Pepi um peixe que o pinguim lhe tinha mandado e assim ele ficou com mais força.
            - Obrigado por tudo – agradeceu Pepi ao despedir-se – Vocês são grandes amigos e nunca vos vou esquecer.
            - Vai Pepi – disse o leão, aproximando-se – E espero que tenhas aprendido a lição.
            Pepi seguiu o papagaio e depois de uma longa caminhada viu muita neve e começou a correr. Só parou para se despedir:
            - Adeus papagaio. Obrigado. Vem visitar-me quando puderes. Estarei sempre aqui – e continuou a correr alegremente.
            - Adeus Pepi… ui, que gelo – disse o papagaio.
            Pepi abraçou os seus amigos com muita emoção ao mesmo tempo que dizia:
            - Prometo que nunca mais saio daqui. Ah! Isto sim é o meu mundo.
            - Mas pelos vistos arranjaste muitos amigos – observou a foca.
            - Sim, é verdade, mas cada um no seu lugar. Percebi que só aqui serei feliz. Aprendi uma grande lição: todos nós, e até as plantas, estamos adaptados ao clima e à maneira de viver de cada região. Só nelas é que conseguiremos ser felizes… Eu sou muito feliz aqui…
            Todos se abraçaram e caminharam juntos.

Fim